segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Uma triste diferenciação

O indivíduo conhece a Doutrina Espírita e percebe seu valor para sua vida e para seu porvir. Ele se entusiasma e estuda o quanto pode — com afinco e perseverança — o vasto contingente de informações à sua disposição sobre as questões filosóficas, científicas e religiosas levantadas pelo Espiritismo. Ele se apóia em Kardec e na necessidade da transformação moral; ele labuta nos trabalhos de caridade desenvolvidos pela Casa onde se encontra; ele, em suma, se dedica à causa de coração, mente e alma.

Anos (ou, em muitos casos, décadas) se passam. E tudo segue o curso determinado pelo Pai Maior, até o dia em que a vida lhe determina uma necessidade de mudança. Por quaisquer que sejam as contingências, esse indivíduo se vê obrigado a mudar de cidade, ou mesmo de estado.

Chegando à sua nova morada, procura se integrar no trabalho e na comunidade. Busca também, claro, uma nova Casa Espírita onde possa dar sequência aos seus labores em prol da Doutrina e de si mesmo. Ás vezes essa busca se estende por algum tempo, pois o indivíduo em questão não sente que o trabalho nessa ou naquela casa é realizado de acordo com o que aprendeu em sua alma mater do Espiritismo, lá na cidade natal, e ele continua a busca. Até que em determinado momento encontra a Casa almejada.


Dá-se então, um processo de ajuste mútuo: a Casa exige — de forma correta e absolutamente responsável — que o indivíduo passe por um processo de reciclagem, onde aprenda os procedimentos da instituição e sua forma de trabalhar. O indivíduo por outro lado, se aclimata e se integra com os colaboradores. Durante esse período mais ou menos longo, ambos — o colaborador e sua nova Casa — se assimilam, se entendem, se questionam e se aceitam, e no decurso do prazo determinado pela Casa, em havendo bom desempenho do novo colaborador em se harmonizar com os trabalhos e com a condução dos mesmos, este passa a fazer parte dos quadros da Casa Espírita que o acolheu, com todos os direitos e deveres daqueles que ali chegaram e demonstraram a mesma perseverança e responsabilidade para com a Casa e para com a Doutrina Espírita.

Infelizmente a situação descrita acima em muitos casos simplesmente não ocorre. Por mais que durante o processo de “aclimatação” o colaborador demonstre conhecimento, boa-vontade, empenho e tudo o mais que a Casa exige — novamente: é correto e responsável que a Casa exija — ele ainda assim será visto como um elemento de preocupação. E em alguns casos, assim permanecerá por um longo período, se é que esse período vai ser finito. Ocorre que em função de ter uma experiência pregressa dentro da Doutrina, seu conhecimento e seus pontos de vista, ainda que muito sutilmente, serão sempre questionados por aqueles que colaboram com a Casa já há muito tempo. Nada declarado e nada que impeça o colaborador de — através do exercício da paciência e da humildade — continuar sua seara de renovação interior e de exercício da caridade Cristã. Ainda assim, muitas são as situações em que um sutil véu separa o colaborador chegado de fora daqueles que encontraram o Espiritismo através da Casa. Algumas instituições mais antigas apresentam esse fenômeno com maior frequência, até porque já calcificaram suas condutas e seus procedimentos com relação à Doutrina, mas não são as únicas. Muitas instituições “jovens” apresentam comportamento semelhante. Essa diferenciação se faz sentir em muitas situações quando o colaborador em questão exprime sua opinião, se dispõe a desempenhar alguma tarefa (excluídas as tarefas de cunho voluntário, claro) ou dá uma ideia nova. As reservas se mostram rapidamente, e nem sempre existe coerência sob o ponto de vista doutrinário. Ocorre apenas que vem de alguém “de fora”. Em algumas situações mais exacerbadas, o colaborador é levado a sentir que cometeu um erro por ter ingressado na Doutrina Espírita por uma instituição diferente daquela que no momento o recebe.

Não queremos aqui afirmar que a Casa Espírita deva afrouxar o zelo que corretamente nutre pela boa condução de seus trabalhos, nem reduzir as exigências quanto ao estrito cumprimento das normas Codificadas por Kardec. Em outra oportunidade já mencionei que os perigos da dogmatização sempre rondam as casas que assim procedem. O que penso ser importante observar é que mesmo em se seguindo à risca as diretrizes da Doutrina Espírita, mesmo pautando exclusivamente por Kardec, mesmo observando estritamente a pureza doutrinária, ainda assim existe espaço dentro da atuação dos colaboradores Espíritas para a diversidade de opiniões e para o surgimento de ideias que sejam úteis para qualquer Casa.

Aliás, desde que dentro dos preceitos doutrinários codificados or Kardec, essa diversidade de opiniões e de ideias deveria ser incentivada e sempre muito bem-vinda. A evolução, afinal, se dá com o contato com a diversidade. Se nós, como Espíritas, fôssemos avessos a novas ideias, toda a obra de André Luiz, por exemplo, teria sido rejeitada. Aliás, é bom lembrar que muita oposição essas obras tiveram em seu nascedouro. E hoje formam parte sólida e importante do edifício do conhecimento Espírita que tanto nos beneficia, e que tanto respeitamos.

Por outro lado, conhecemos bem o caminho seguido por instituições que se calcificam nas ideias “tradicionais” e no pensamento centralizado, onde as divergências são vistas como sendo nocivas e vindo de mentes e grupos menos capacitados. As instituições que assim procedem trocaram ao longo da História a essência pela liturgia, e o Espiritismo surgiu como Cristianismo Redivivo para que a luz do Mestre Jesus brilhasse novamente no seio da Humanidade.

Vigiemos e oremos para que nossa conduta seja sempre inclusiva, e para que possamos valorizar o conhecimento e a boa vontade, venham de onde vierem, desde que calcados no amor de Jesus e na segurança de Kardec.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Quando o dogmatismo se infiltra

Discutíamos a questão da água fluidificada em sala de aula, e em determinado ponto da conversa alguns alunos passaram a relatar como o assunto é tratado em Casas Espíritas por onde passaram.

Um deles disse que os vasilhames deveriam ser postos sobre uma mesa especialmente designada para esse fim, e deveriam estar destampados durante a prece coletiva, e imediatamente tampados assim que a mesma terminasse para que os fluidos permanecessem na água; outro relatou que os vasilhames deveriam permanecer tampados durante todo o processo, pois a ação da espiritualidade não é impedida por barreiras físicas; já um terceiro disse que as instruções eram para que o recipiente fosse tampado, mas que a tampa jamais deveria ser de metal, pois o metal influi de forma indesejável no processo de magnetização. Outros foram os relatos: vasilhames de uso coletivo, vasilhames individuais obrigatórios, impedimento no uso dos vasilhames de plástico, e por aí vai.

Como sou engenheiro de formação, e como para mim o aspecto científico da Doutrina — especialmente o método de experimentação (calcado na razão e nos fatos) de Kardec — são indispensáveis na análise de qualquer assunto ligado ao Espiritismo, mais uma vez percebi estar presenciando um fenômeno que infelizmente se torna comum em Casas Espíritas em todos os lugares: a dogmatização.

Nos casos relatados acima, quando inquiridos sobre o processo de experimentação utilizados pelas várias Casas Espíritas para chegar às conclusões relatadas, os alunos não conseguiam oferecer respostas, sendo que alguns afirmavam a velha (e perigosa) diatribe: “sempre foi feito assim”. E a segurança propiciada pelos anos, junto com a sensação de que de certa forma o “método” adotado pela Casa faz sentido, adicionado ainda o temor de questionar um procedimento adotado, juntos geram aquilo que formalmente foi extirpado da Doutrina já em sua codificação por Kardec: a ação sem base na razão.

O exemplo da água fluidificada é apenas um de literalmente centenas que muitas vezes encontramos em Centros Espíritas. Separação de homens e mulheres no salão de preleções (até mesmo com o uso de cortinas); banalização do passe (passe na entrada, passe na saída, passe para entrar na sala de passes, e por aí vai); ritualização dos procedimentos doutrinários e mediúnicos; “padroeirização” de colaboradores desencarnados da Casa e de nomes proeminentes do Espiritismo (“valha-me meu querido senhor Austrilágio, fundador dessa casa” como prece pessoal); receituário de banhos com ervas e sal grosso (esse “importado” diretamente da Umbanda) e vários outros. Nada disso resistiria ao crivo do próprio Kardec — que teria sido o primeiro a adotar tais práticas se fizessem sentido à luz da razão — ou mesmo a um estudo com base na Ciência a que temos acesso nos dias de hoje.

E o problema ainda se agrava mais quando sutilmente passamos a nos apegar a tais procedimentos em detrimento da essência da Doutrina, de seus aspectos científicos, de seus fundamentos filosóficos, e da renovação moral que exige. Tornamo-nos caricaturas ambulantes, e abalizamos os questionamentos dos céticos quanto à suposta falta de seriedade da Doutrina Espírita. Uma pena.

O que a Doutrina nos conclama a fazer é a continuar estudando, e a questionar sempre — com base nos fatos e no avanço científico — as práticas e possibilidades que se nos apresentam. Nesse sentido, iniciativas de estudo científico, como as conduzidas pela A.M.E. (Associação Médica Espírita) e pela UniEspírito, por exemplo, são muito bem-vindas.

Só assim, através da condução da Doutrina dentro dos parâmetros seguros delineados por Kardec, conseguiremos evitar o dogmatismo, que tanto mal causa onde se estabelece.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Espiritismo não é aspirina


O fenômeno é conhecido de qualquer um que já tenha um certo tempo como colaborador na Casa Espírita.

O indivíduo chega à Casa em busca de ajuda por se sentir impotente diante dos problemas que a vida lhe apresenta. Após o encaminhamento, se dispõe ao tratamento indicado e passa a frequentar assiduamente as preleções e os passes. Aos poucos se tranquiliza , e perseverando nas novas ideias que aprende acerca da Doutrina Espírita, consegue o equilíbrio almejado. Com o tempo, o problema se resolve, e o indivíduo, pronto para se assoberbar novamente com os problemas do mundo, se afasta da Casa e após algum tempo raramente se lembra do período que nela passou.

O amigo Gilson Lopes, de São Paulo, uma vez contou uma passagem deste teor em que o indivíduo em questão retornava à Casa sempre que um problema lhe afligia. Atendido em sua emergência, encontrava forças para seguir em frente e uma vez satisfeito com o curso de sua vida, sumia da Casa. Vez após vez a história era a mesma. Em uma dessas oportunidades, um dos amigos da Casa perguntou pelo “fujão”, a quem se habituara a ver na Casa. Informado de mais um afastamento, comentou: “é, ainda não está doendo o suficiente.”

O que deveria ficar claro para aqueles que assim agem, é que a Doutrina Espírita não deveria ser vista como tratamento paliativo: não é remédio para dor de cabeça, que age sobre o sintoma mas não trata a causa dessa dor.

A Doutrina é, sim, um chamado à reforma íntima. E reforma íntima é renovação interior, profunda, e contínua.

Essa renovação deve ser profunda porque os ensinamentos nos conclamam a olhar para além dos problemas que inicialmente visualizamos. Estes são apenas os efeitos de nossa conduta (presente ou passada). Apenas uma autocrítica sincera e rigorosa de nossa conduta e de nossa natureza interior vai apontar os verdadeiros problemas a resolver; problemas esses que geram todos os efeitos negativos em nossa vida. A seriedade dessa análise é muito grande, e exige que obtenhamos novas ferramentas de conhecimento para podermos compreender adequadamente nossos problemas e com eles lidar de forma responsável e eficaz. O estudo, nesse caso, se faz necessário, e como o conhecimento necessário é vasto, não dá para achar que assistir algumas preleções ou ler alguns trechos de O Evangelho Segundo o Espiritismo vá ser suficiente.

Essa renovação deve ser contínua porque a resolução de nossos problemas íntimos é um processo longo, que exige paciência e perseverança. Construímos dentro de nós verdadeiras montanhas ao longo dos séculos, e o que temos são nossas próprias mãos para transformar essas montanhas, que hoje são montanhas de problemas em montanhas de virtudes. O tempo está a nosso favor quando decidimos nos dedicar à tarefa: séculos são necessários, e séculos temos na esteira das reencarnações renovadoras. Mas o trabalho deve ser contínuo e a dedicação, perene.

O que não é útil é tomar a Doutrina por pílula de bem-estar, buscando-a apenas quando as dificuldades da vida baterem à nossa porta. Agir assim é retardar o passo de nossa própria marcha evolutiva. E outra: alertar amigos e parentes que assim agem, é exercício de caridade.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Quando deixamos de ser Espíritas

Fulano de Tal é colaborador da Casa Espírita já há mais de trinta anos. Cônscio de suas responsabilidades para com o próximo, estudou a Doutrina de forma diligente desde os primeiros contatos que teve com a mesma, e nunca parou. Tanto se esforçou por colaborar com a Casa que o acolheu que ao longo do tempo foi acumulando responsabilidades e trabalhos realizados. Hoje é um dos coordenadores do trabalho voluntário dessa Casa, e contabiliza inúmeros projetos realizados — sempre com o auxílio de várias dezenas de colaboradores, claro — em benefício do próximo, desde mutirões de limpeza e pintura na sede do Centro Espírita, passando pela organização de festas com o objetivo de angariar fundos para as atividades assistenciais da Casa, e chegando mesmo aos mutirões de coleta e distribuição de alimentos para comunidades carentes. Fulano é simples, disciplinado e muito comunicativo.

Sicrano de Tal é mais novo na mesma casa (e apesar do sobrenome ser o mesmo, não guarda parentesco com Fulano): tem “apenas” dez anos de serviços prestados à Casa. Estudante perene e dedicado da Doutrina e experimentado orador, é palestrante notável e ao longo de sua caminhada na Casa teve para si outorgada a responsabilidade de organizar as palestras periódicas, os agendamentos com palestrantes internos e externos, a organização da infra-estrutura necessária, e a divulgação dos eventos em si. Sicrano é amistoso, responsável e sempre disposto a ajudar.

Apesar do pouco contato, Fulano e Sicrano têm um relacionamento amistoso e cordial.

E tudo vai bem até o dia em que Sicrano, descobrindo que um orador querido de região distante estará na cidade em um dia próximo. Rapidamente põe-se a trabalhar: autorizado pela direção da Casa, entra em contato com o orador em questão, ambos acertam uma data para o evento — a única possível no momento e nos muitos meses vindouros — e a palestra está marcada. Durante a divulgação Sicrano recebe a informação de um dos colaboradores: a data definida coincide com um dos eventos de distribuição de alimentos coordenados por Fulano.

O que ocorre a partir daí é triste e lamentável: Fulano, pego de surpresa e incapaz de entender por que a palestra não poderia ter sido marcada para outro momento, se magoa com a inevitável perda de colaboradores, a maioria interessada em assistir a palestra do orador estimado. Por sua vez, Sicrano desconsidera as reclamações de Fulano, achando que a oportunidade única não pode ser perdida. E a partir dessa pequena escaramuça inicial, forma-se uma animosidade entre ambos. Dentro de seus próprios grupos são o que sempre foram: pedras de arrimo dos trabalhos que coordenam. Contudo, sem que quase ninguém saiba a não ser uns poucos colaboradores mais íntimos, passam a se desgostar mutuamente.

Em que pese a situação exposta acima ser fictícia, ela infelizmente reflete o cerne de um problema que não é incomum em várias Casas Espíritas em todos os lugares: as inimizades veladas entre seus colaboradores. E independente de qual sejam as razões alegadas para tais comportamentos, a verdade é que o diagnóstico central é um só: aqueles que se entregam a esses comportamentos deixam de ser Espíritas, pelo menos nos momentos em que nutrem mágoas recíprocas. São Espíritas durante quase todo o tempo, mas abandonam intencionalmente a Doutrina e seus ensinamentos quando se entregam às inimizades.

“Puxa vida,” alguém sempre pergunta, diante dessa afirmação, “será que é para tanto? Não será exagero afirmar que só por causa disso o sujeito deixa de ser Espírita, ainda que só por um tempinho?”

Avaliar se esse tipo de comportamento constitui ou não um abandono da Doutrina é questão de foro íntimo, claro, mas tal observação se alicerça em Kardec. Vejamos.

Encontramos no capítulo XVII, item 4 do Evangelho Segundo o Espiritismo, uma definição — simples e precisa, como tudo o que escreveu Kardec — extremamente significativa para esse assunto: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas más inclinações.”

Essa é uma definição de suma importância no que tange esse assunto em particular. Kardec afirma que o verdadeiro espírita — e esse termo “verdadeiro” mereceria por si só um volume inteiro de análises — é reconhecido “pelos esforços que emprega para domar suas más inclinações” (grifo nosso). Em outras palavras, o verdadeiro espírita não é reconhecido por ter atingido a perfeição, nem pelo conhecimento doutrinário, nem pelo tempo que passa dentro do Centro Espírita, nem mesmo pelo tanto que trabalha em prol da Doutrina. A definição não se refere ainda ao sucesso em domar as más inclinações, observem. Ela fala, sim, do esforço de cada um no sentido de melhorar-se. (É justamente por isso que nenhum de nós que já ingressou nas lides Espíritas deveria dizer que está “tentando” ser Espírita. Nada disso: se todos nós nos esforçamos — ainda que muitas vezes sem sucesso — para nos melhorarmos, somos Espíritas no direito de sê-lo e de informá-lo a quem quer que nos interesse. Mas isso é outra questão, para um outro momento.)

Ocorre que nos exemplos acima, quando Fulano e Sicrano nutrem animosidades mútuas — um exemplo clássico de “má tendência” —, deixam explicitamente esse esforço de lado. Movidos pelo melindre, pela mágoa, pelo rancor dentro da Casa Espírita, rasgam ainda que temporariamente seus votos de fraternidade, compreensão, resignação e humildade e põem-se na posição de enfermos espirituais. No mais das vezes julgam-se detentores da razão, escudados por sua longa ficha de serviços prestados, pela importância para a Casa do trabalho de que são colaboradores, pelas intenções (sempre as melhores e as completamente desinteressadas) que guardam para com esses trabalhos e outras alegações que tais. E infelizmente ao se arvorarem em senhores da razão se afastam dos exemplos magnânimos do Cristo, de compreensão, de perdão, de resignação, de humildade.

Fulanos e Sicranos por aí afora continuarão com essas curtas (mas importantes e contundentes) “ausências” da Doutrina Espírita enquanto não examinarem seus íntimos e não buscarem aplicar também a essas situações dentro da Casa o manancial de conhecimento que certamente já adquiriram e já aplicam em seus trabalhos assistenciais.

E como podemos retornar de vez para o caminho seguro da Doutrina? O próprio Cristo ensina:

"Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da justiça e não sejais metido em prisão. Em verdade vos digo que daí não saireis, enquanto não houverdes pago o último ceitil."

sábado, 15 de agosto de 2009

Receber bem para receber sempre

Recentemente um casal de amigos me contou uma pequena passagem que guarda triste semelhança com várias outras que já ouvi ou — mais contundentemente — que já presenciei.

A família — pai, mãe e a filhinha de quatro anos — em busca de um Centro Espírita passa pela porta de um deles, desconhecido até então, e decide entrar para “dar uma olhadinha”. São logo avistados por um indivíduo na entrada, a quem dirigem as perguntas habituais: “quando são os horários de funcionamento?”, “existe grupo de evangelização infantil”, ao que são prontamente respondidos. Junto com a resposta, porém, vem o aviso: “mas não permitimos a entrada de pessoas de bermuda.”

O pai, de calça social (era um domingo e estavam passeando pela pequena cidade), olha para a mãe, também de calça social, e volta-se sem entender nada para o colaborador da casa. E é esclarecido do “erro” em questão: “a menina não pode entrar na casa vestida assim.” A filhinha de quatro anos trajava uma bermudinha, e isso violava o código de vestimenta da Casa em questão.

Situações semelhantes — de constrangimento daqueles que buscam a Casa Espírita pela primeira vez — ocorrem de formas múltiplas, e o resultado, infelizmente, é quase sempre o mesmo: o afastamento prematuro daquele que veio até a Casa em busca de auxílio.

Sabemos, claro, que toda casa tem suas regras, e que a regra de vestimenta é absolutamente importante para reforçar o código de conduta que se espera dos colaboradores e frequentadores do Centro Espírita, mas a questão aqui é outra: a de se imputar a regra antes de se oferecer o auxílio. E a primeira impressão nesse caso (e em vários outros m que recebemos mal o irmão que nos busca pela primeira vez) é péssima, e em última instância é um exemplo tácito de falta e caridade. Nesse sentido, inúmeros são os “comitês de recepção” de Centros Espíritas que erram por não entender que o momento inicial de contato com a Casa é de suma importância para quem a procura. Impor regras logo na entrada, receber de mau-humor, dar informações errôneas ou incompletas e vários outros exemplos são atitudes certamente descompassadas dos objetivos da Casa (de qualquer Casa) Espírita.

Em contraste, tenho exemplos pessoais de recepções em templos de outras religiões. Em situações em que fui convidado a assistir o sermão em Igrejas Batistas, por exemplo, mais parecia que eu era o convidado de honra do local, tendo sido apresentado às atividades e às instalações da Igreja e tendo sido sempre introduzido às pessoas que me recebiam com largos e sinceros sorrisos. Se sabiam que eu sou espírita ou não, não sei (os amigos que me convidaram certamente sabiam), mas o fato é que me senti muito bem recebido, muito bem-vindo àqueles templos. E, puxa, como eu gostaria que todas as Casas Espíritas recebessem os “novatos” dessa forma amabilíssima.

E como fazer para que a situação se modifique para melhor em nossa Casa Espírita?

Bem, em primeiro lugar é necessário fazer uma avaliação da situação. Temos alguém para receber as pessoas durante as sessões públicas? Se sim, os responsáveis pela recepção estão a par das atividades da casa? E estão instruídos para receber os que chegam pela primeira vez com a alegria e a caridade de quem recebe um irmão do coração que pode estar precisando muito de ajuda?

Caso as respostas para essas e para outras perguntas da avaliação inicial não sejam satisfatórias, o caminho é simples: formalização e treinamento. A Casa já deve oferecer vários cursos sobre a Doutrina e as atividades da mesma, certo? Pois então, a conduta durante a recepção deve ser conteúdo formalizado e abordado em treinamento. E, por favor, que nesse treinamento seja reforçado que a caridade e a cordialidade na recepção dos iniciantes deve preceder a exigência de regras de conduta. Não que as regras não devam ser passadas em pouco tempo de frequência, mas que nós possamos abrir pequenas exceções em nome de receber bem. Em nossa Casa, onde a padronização e o treinamento são palavras de ordem já há décadas, e onde as regras são seguidas sempre, mas com bom-senso, a questão da vestimenta é lembrada com bastante frequência, mas em público e para todos os frequentadores (e não de forma direta para esse ou para aquele indivíduo). Apenas em casos de abusos mais contundentes — e só muito raramente vemos esse tipo de abuso — é que uma observação particular é feita. Dessa forma o novato se sente realmente bem-vindo, e quando for informado acerca das regras, já se sentirá suficientemente à vontade com a Casa para não se sentir “enjeitado” pela mesma. Como no caso do exemplo inicial, em que faltou bom-senso ao se exigir uma regra de vestimenta de uma menina de quatro anos trajada para um passeio ao ar livre num dia de domingo.

Receber bem o iniciante é importante para que esse encontre na Casa Espírita o auxílio que busca, desenvolva forças para se renovar nos caminhos do Cristo, e quiçá venha a se tornar um colaborador da do Centro e da Doutrina Espírita.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Um começo

Em primeiro lugar, bem-vindos a essa humilde casa virtual! É com muita alegria que os recebo aqui.

Esse é um espaço que criei por uma razão muito simples: eu falo demais. Sempre falei. Sempre tive essa necessidae de me comunicar. E quem sabe se eu colocar no papel (ou, no caso, na tela) alguns de meus pensamentos, vou deixar de importunar por alguns segundos a mais por dia aqueles que educadamente me emprestam sua companhia.

Mas para que serve esse espaço?

O Observações do Caminho é uma tentativa de deixar registrados alguns pensamento meus acerca da Doutrina Espírita, essa que é a minha paixão e a luz a guiar minha vida. A luz a iluminar o meu caminho. Aqui espero compartilhar com todos vocês algumas poucas observações que tenho feito sobre vários aspectos da Doutrina, de forma a criar um cadinho onde possamos trabalhar idéias e, com o auxílio do Mais Alto e dos amigos aqui presentes, podermos refletir e melhorarmos a nós mesmos.

Fica desde já, aqui, meu muito obrigado pela presença e meu convite à participação. Meu primeiro impulso é gerar pequenos artigos, alguns poucos por semana, e a participação de vocês vai ser um grande motivador para que esse espaço cresça e floresça.

Nos falamos em breve!