sábado, 31 de outubro de 2009

Duas palavras sobre Paulo de Tarso

Há muitos anos me lembro de pensar ter descoberto a característica mais importante da personalidade de Paulo de Tarso. Jovem ainda, fascinavam-me todos os aspectos da vida do venerável apóstolo, e em que pese esse fascínio persistir até hoje, já não sou tão pretensioso a ponto de imaginar que possa compreendê-lo em seu todo. Tal tarefa, penso eu, exigiria tempo, persistência, estudo, exercício e paciência compatíveis com várias encarnações, e não com as pouco mais de duas décadas de existência com que eu contava quando tive esse devaneio.

E qual foi minha “brilhante” descoberta naquela época? Eu pensava ter desvendado que era a integridade a característica determinante do apóstolo. Mesmo quando preso às ideias de destruição do Cristianismo, Paulo sempre foi muito íntegro, e em sua integridade era absolutamente fiel aos seus ideais. O próprio Estêvão reconheceu essa característica em seu leito de morte, lembrando que Paulo seria uma grande adição às hostes do Cristo quando viesse a conhecer o caminho benfazejo. E a integridade de Paulo realmente o fez enxergar a grandeza de Jesus e adotar suas ideias, levando adiante uma tarefa que de dimensões quase desproporcionais para um indivíduo só.

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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Quando a caridade vira orgulho

O indivíduo passa por problemas. Vicissitudes naturais da vida assolam sua tranquilidade, mas ciente dos mecanismos de reajuste, parte integrante de nosso processo evolutivo, ele segue em frente. As dificuldades o acompanham, mas a confiança no Mais Alto lhe dão forças para perseverar e seguir em frente.

Obviamente que os problemas afetam de certa forma seu semblante e sua aparência. Um ar mais grave, uma ponta de melancolia, um sorrir mais triste. Os sinais seriam até disfarçáveis, mas ninguém é de ferro.

E assim, preocupado mas confiante; triste, mas perseverante, o amigo segue em frente da melhor forma que consegue dentro de seu conhecimento Espírita.

A certa altura sua aparência chama a atenção do colega de trabalho no Centro Espírita. Este, sem o conhecimento íntimo do indivíduo passando por problemas, que só a amizade sincera e o tempo proporcionam, decide interceder. Está dotado das melhores intenções, claro, mas essas são as únicas ferramentas adequadas de que dispõe.

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quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Necessidade x Merecimento

Mais dia menos dia encontramos situações que verdadeiramente nos testam os limites. Não os limites do que aprendemos em teoria dentro da Doutrina Espírita, mas sim do quanto dessa teoria já introjetamos em nossos corações, o quanto tiramos da teoria e de fato colocamos em prática. As situações são as mais variadas, e vêm calculadamente de encontro às nossas necessidades evolutivas. Questões de saúde pessoal ou de entes queridos, questões financeiras, violências sofridas, traições de confiança dos mais variados matizes, e por aí vai.

E quando ocorrem somos chamados à tarefa hercúlea de ultrapassar a dor, arregimentar toda a nossa confiança no Mais Alto e por em prática os ensinamentos Cristãos e Espíritas de que dispomos.

Fácil? De jeito nenhum, obviamente. Mas existe outro curso útil de ação? Não, definitivamente.

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sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O calado sempre vence

A frase acima me foi dita ontem pelo sensato dirigente de nosso grupo mediúnico. É uma versão mais sensata (como só poderia ser, saindo de sua boca) para a popular “em boca fechada não entra mosquito”, ou para a tão popular quanto “quem fala demais dá bom-dia a cavalo”.

A frase foi parte da resposta a um questionamento meu: “qual a atitude mais adequada a tomar quando testemunhamos um companheiro da Casa Espírita agindo de forma contrária aos interesses da Doutrina e aos direcionamentos da própria Casa?”. A pergunta, por sua vez, foi um pedido de esclarecimento que surgiu como reação à mensagem recebida ao fim da sessão, afirmando que as discussões em torno do conteúdo bibliográfico da Feira do Livro (vide artigo anterior) não eram úteis. “A palavra não ajuda” foi uma das expressões usadas pelo amigo do Mais Alto. Por sua vez, ainda, a mensagem do amigo espiritual aludia às reações contrárias e críticas ao conteúdo bibliográfico da Feira do Livro, assunto de meu último artigo.

E como resultado da mensagem eu, que escrevi tantas dessas palavras, me senti tolo por tê-lo feito, e confuso sobre como deveria agir no futuro.

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segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Prioridades


Em primeiro lugar gostaria de pedir desculpas aos leitores (aos não mais que cinco, estou certo, que ainda acompanham esse blog) pela ausência de artigos na semana passada. Espero ser mais assíduo daqui para frente, com dois artigos por semana.

Ah, e reparem que o formato muda a partir de hoje, por sugestão de meu amigo e colega Pedro Valiati. Muito obrigado pela sugestão, Pedro!

Mas vamos ao que interessa, o artigo de hoje:
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A Feira do Livro Espírita foi linda e muito bem organizada. Mais de mil títulos disponíveis, organizados impecavelmente por mais de trezentos voluntários para o evento de dois dias. Além dos livros em si, autores presentes para explanações e autógrafos; palestras doutrinárias realizadas por oradores ilustres; uma praça de alimentação agradável, com atendentes de muito bom humor e quitutes especialmente escolhidos para agradar a todos. Um dos maiores — senão o maior — evento desse tipo do interior do estado, uma beleza.

Tudo perfeito, digno de admiração, e aplauso e muita gratidão aos organizadores que nos brindaram com tão belo e importante evento. Mas será que estava tudo perfeito mesmo? Bem, em que pese o quesito organização merecer nota máxima, um aspecto precisa ser comentado. Uma volta pelo ginásio em meio aos livros evidenciava um claro ponto de melhoria para os próximos anos. Em meio a várias edições respeitáveis de autores sérios e dedicados à causa Espírita, alguns títulos causavam admiração e mesmo espanto.

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quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O zelo pelo termo "Espírita"

Estava eu navegando pela Internet quando de repente me deparei com um anúncio inusitado, dizendo algo na linha de “Risco de divórcio? Nós podemos ajudar. Centro Espírita ...”. É óbvio que fiquei curioso e resolvi checar. Achei que fosse alguma Casa Espírita oferecendo explicitamente serviços de aconselhamento de acordo com a Doutrina e lá fui eu para ver que tipo de serviço nossos irmãos de seara estariam disponibilizando.

Para meu espanto, o que encontrei não tem nada de “Centro”, e muito menos de “Espírita”. Escrito em um dialeto estranho que só muito de longe se assemelha ao português, o site da suposta instituição já revela suas intenções na página principal, com um banner colorido onde está escrito “Tarô”, com uma ilustração de cartas desse tipo. Mais abaixo o leque de “serviços” oferecidos: pacto de riqueza, sucesso empresarial, amarração, problemas conjugal (sic), e por aí vai. Só com muito custo consegui dominar os sentimentos menos caridosos que me invadiram ao ler as diatribes escritas nas páginas do tal site.

Diante de mais esse absurdo, decidi fazer uma rápida pesquisa no Google, buscando pela expressão “Centro Espírita”, e o resultado não é muito diferente. Em meio a várias Casas Espíritas de renome e com anos de trabalho em prol da Doutrina codificada por Kardec, é fácil encontrar casas de Umbanda, centros espiritualistas de toda sorte e outras instituições disjuntas do Movimento Espírita.

E me vem a pergunta: por que será que as instituições espiritualistas ainda teimam em se dizer “Espíritas”? Pois não foi o próprio Kardec quem deixou explícita a explanação de que “Para se designarem coisas novas são precisos termos novos”, pois “assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras”? Pois é, ao que parece, poucos têm essa preocupação com a clareza das ideias e dos conceitos.

Penso que seja outra responsabilidade nossa como Espíritas: zelar não só pela Doutrina, mas também pelo nome da Doutrina. Quantas vezes não ouvimos pessoas se dizendo Espíritas para logo em seguida informarem o nome do terreiro de Candomblé que freqüentam? E creio que faríamos bem em pelo menos esclarecer estas pessoas quanto à origem e a fundamentação por trás do termo. Mais ainda, quando alguém que for leigo no assunto, ouvindo que somos Espíritas, perguntar se somos “de mesa branca, Umbanda ou Candomblé”, devemos dizer que somos simplesmente Espíritas (e não “Espíritas Kardecistas, ou outras denominações não estipuladas pelo próprio Kardec), e que o termo se aplica a quem adota a Doutrina dos Espíritos como revelada por eles mesmos e codificada por Allan Kardec. Devemos esclarecer ainda que o Espiritismo é uma doutrina de tríplice aspecto: filosófico, científico e religioso, e que no aspecto religioso trata-se de uma doutrina fundamentalmente Cristã. Por fim, devemos esclarecer que as demais denominações são espiritualistas, pontificando a diferença entre os dois termos.

Até porque se nós Espíritas não fizermos isso, continuaremos a ver nossa querida Doutrina Espírita confundida com as demais denominações, e o prejuízo continuará sendo de todos.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Uma triste diferenciação

O indivíduo conhece a Doutrina Espírita e percebe seu valor para sua vida e para seu porvir. Ele se entusiasma e estuda o quanto pode — com afinco e perseverança — o vasto contingente de informações à sua disposição sobre as questões filosóficas, científicas e religiosas levantadas pelo Espiritismo. Ele se apóia em Kardec e na necessidade da transformação moral; ele labuta nos trabalhos de caridade desenvolvidos pela Casa onde se encontra; ele, em suma, se dedica à causa de coração, mente e alma.

Anos (ou, em muitos casos, décadas) se passam. E tudo segue o curso determinado pelo Pai Maior, até o dia em que a vida lhe determina uma necessidade de mudança. Por quaisquer que sejam as contingências, esse indivíduo se vê obrigado a mudar de cidade, ou mesmo de estado.

Chegando à sua nova morada, procura se integrar no trabalho e na comunidade. Busca também, claro, uma nova Casa Espírita onde possa dar sequência aos seus labores em prol da Doutrina e de si mesmo. Ás vezes essa busca se estende por algum tempo, pois o indivíduo em questão não sente que o trabalho nessa ou naquela casa é realizado de acordo com o que aprendeu em sua alma mater do Espiritismo, lá na cidade natal, e ele continua a busca. Até que em determinado momento encontra a Casa almejada.


Dá-se então, um processo de ajuste mútuo: a Casa exige — de forma correta e absolutamente responsável — que o indivíduo passe por um processo de reciclagem, onde aprenda os procedimentos da instituição e sua forma de trabalhar. O indivíduo por outro lado, se aclimata e se integra com os colaboradores. Durante esse período mais ou menos longo, ambos — o colaborador e sua nova Casa — se assimilam, se entendem, se questionam e se aceitam, e no decurso do prazo determinado pela Casa, em havendo bom desempenho do novo colaborador em se harmonizar com os trabalhos e com a condução dos mesmos, este passa a fazer parte dos quadros da Casa Espírita que o acolheu, com todos os direitos e deveres daqueles que ali chegaram e demonstraram a mesma perseverança e responsabilidade para com a Casa e para com a Doutrina Espírita.

Infelizmente a situação descrita acima em muitos casos simplesmente não ocorre. Por mais que durante o processo de “aclimatação” o colaborador demonstre conhecimento, boa-vontade, empenho e tudo o mais que a Casa exige — novamente: é correto e responsável que a Casa exija — ele ainda assim será visto como um elemento de preocupação. E em alguns casos, assim permanecerá por um longo período, se é que esse período vai ser finito. Ocorre que em função de ter uma experiência pregressa dentro da Doutrina, seu conhecimento e seus pontos de vista, ainda que muito sutilmente, serão sempre questionados por aqueles que colaboram com a Casa já há muito tempo. Nada declarado e nada que impeça o colaborador de — através do exercício da paciência e da humildade — continuar sua seara de renovação interior e de exercício da caridade Cristã. Ainda assim, muitas são as situações em que um sutil véu separa o colaborador chegado de fora daqueles que encontraram o Espiritismo através da Casa. Algumas instituições mais antigas apresentam esse fenômeno com maior frequência, até porque já calcificaram suas condutas e seus procedimentos com relação à Doutrina, mas não são as únicas. Muitas instituições “jovens” apresentam comportamento semelhante. Essa diferenciação se faz sentir em muitas situações quando o colaborador em questão exprime sua opinião, se dispõe a desempenhar alguma tarefa (excluídas as tarefas de cunho voluntário, claro) ou dá uma ideia nova. As reservas se mostram rapidamente, e nem sempre existe coerência sob o ponto de vista doutrinário. Ocorre apenas que vem de alguém “de fora”. Em algumas situações mais exacerbadas, o colaborador é levado a sentir que cometeu um erro por ter ingressado na Doutrina Espírita por uma instituição diferente daquela que no momento o recebe.

Não queremos aqui afirmar que a Casa Espírita deva afrouxar o zelo que corretamente nutre pela boa condução de seus trabalhos, nem reduzir as exigências quanto ao estrito cumprimento das normas Codificadas por Kardec. Em outra oportunidade já mencionei que os perigos da dogmatização sempre rondam as casas que assim procedem. O que penso ser importante observar é que mesmo em se seguindo à risca as diretrizes da Doutrina Espírita, mesmo pautando exclusivamente por Kardec, mesmo observando estritamente a pureza doutrinária, ainda assim existe espaço dentro da atuação dos colaboradores Espíritas para a diversidade de opiniões e para o surgimento de ideias que sejam úteis para qualquer Casa.

Aliás, desde que dentro dos preceitos doutrinários codificados or Kardec, essa diversidade de opiniões e de ideias deveria ser incentivada e sempre muito bem-vinda. A evolução, afinal, se dá com o contato com a diversidade. Se nós, como Espíritas, fôssemos avessos a novas ideias, toda a obra de André Luiz, por exemplo, teria sido rejeitada. Aliás, é bom lembrar que muita oposição essas obras tiveram em seu nascedouro. E hoje formam parte sólida e importante do edifício do conhecimento Espírita que tanto nos beneficia, e que tanto respeitamos.

Por outro lado, conhecemos bem o caminho seguido por instituições que se calcificam nas ideias “tradicionais” e no pensamento centralizado, onde as divergências são vistas como sendo nocivas e vindo de mentes e grupos menos capacitados. As instituições que assim procedem trocaram ao longo da História a essência pela liturgia, e o Espiritismo surgiu como Cristianismo Redivivo para que a luz do Mestre Jesus brilhasse novamente no seio da Humanidade.

Vigiemos e oremos para que nossa conduta seja sempre inclusiva, e para que possamos valorizar o conhecimento e a boa vontade, venham de onde vierem, desde que calcados no amor de Jesus e na segurança de Kardec.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Quando o dogmatismo se infiltra

Discutíamos a questão da água fluidificada em sala de aula, e em determinado ponto da conversa alguns alunos passaram a relatar como o assunto é tratado em Casas Espíritas por onde passaram.

Um deles disse que os vasilhames deveriam ser postos sobre uma mesa especialmente designada para esse fim, e deveriam estar destampados durante a prece coletiva, e imediatamente tampados assim que a mesma terminasse para que os fluidos permanecessem na água; outro relatou que os vasilhames deveriam permanecer tampados durante todo o processo, pois a ação da espiritualidade não é impedida por barreiras físicas; já um terceiro disse que as instruções eram para que o recipiente fosse tampado, mas que a tampa jamais deveria ser de metal, pois o metal influi de forma indesejável no processo de magnetização. Outros foram os relatos: vasilhames de uso coletivo, vasilhames individuais obrigatórios, impedimento no uso dos vasilhames de plástico, e por aí vai.

Como sou engenheiro de formação, e como para mim o aspecto científico da Doutrina — especialmente o método de experimentação (calcado na razão e nos fatos) de Kardec — são indispensáveis na análise de qualquer assunto ligado ao Espiritismo, mais uma vez percebi estar presenciando um fenômeno que infelizmente se torna comum em Casas Espíritas em todos os lugares: a dogmatização.

Nos casos relatados acima, quando inquiridos sobre o processo de experimentação utilizados pelas várias Casas Espíritas para chegar às conclusões relatadas, os alunos não conseguiam oferecer respostas, sendo que alguns afirmavam a velha (e perigosa) diatribe: “sempre foi feito assim”. E a segurança propiciada pelos anos, junto com a sensação de que de certa forma o “método” adotado pela Casa faz sentido, adicionado ainda o temor de questionar um procedimento adotado, juntos geram aquilo que formalmente foi extirpado da Doutrina já em sua codificação por Kardec: a ação sem base na razão.

O exemplo da água fluidificada é apenas um de literalmente centenas que muitas vezes encontramos em Centros Espíritas. Separação de homens e mulheres no salão de preleções (até mesmo com o uso de cortinas); banalização do passe (passe na entrada, passe na saída, passe para entrar na sala de passes, e por aí vai); ritualização dos procedimentos doutrinários e mediúnicos; “padroeirização” de colaboradores desencarnados da Casa e de nomes proeminentes do Espiritismo (“valha-me meu querido senhor Austrilágio, fundador dessa casa” como prece pessoal); receituário de banhos com ervas e sal grosso (esse “importado” diretamente da Umbanda) e vários outros. Nada disso resistiria ao crivo do próprio Kardec — que teria sido o primeiro a adotar tais práticas se fizessem sentido à luz da razão — ou mesmo a um estudo com base na Ciência a que temos acesso nos dias de hoje.

E o problema ainda se agrava mais quando sutilmente passamos a nos apegar a tais procedimentos em detrimento da essência da Doutrina, de seus aspectos científicos, de seus fundamentos filosóficos, e da renovação moral que exige. Tornamo-nos caricaturas ambulantes, e abalizamos os questionamentos dos céticos quanto à suposta falta de seriedade da Doutrina Espírita. Uma pena.

O que a Doutrina nos conclama a fazer é a continuar estudando, e a questionar sempre — com base nos fatos e no avanço científico — as práticas e possibilidades que se nos apresentam. Nesse sentido, iniciativas de estudo científico, como as conduzidas pela A.M.E. (Associação Médica Espírita) e pela UniEspírito, por exemplo, são muito bem-vindas.

Só assim, através da condução da Doutrina dentro dos parâmetros seguros delineados por Kardec, conseguiremos evitar o dogmatismo, que tanto mal causa onde se estabelece.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Espiritismo não é aspirina


O fenômeno é conhecido de qualquer um que já tenha um certo tempo como colaborador na Casa Espírita.

O indivíduo chega à Casa em busca de ajuda por se sentir impotente diante dos problemas que a vida lhe apresenta. Após o encaminhamento, se dispõe ao tratamento indicado e passa a frequentar assiduamente as preleções e os passes. Aos poucos se tranquiliza , e perseverando nas novas ideias que aprende acerca da Doutrina Espírita, consegue o equilíbrio almejado. Com o tempo, o problema se resolve, e o indivíduo, pronto para se assoberbar novamente com os problemas do mundo, se afasta da Casa e após algum tempo raramente se lembra do período que nela passou.

O amigo Gilson Lopes, de São Paulo, uma vez contou uma passagem deste teor em que o indivíduo em questão retornava à Casa sempre que um problema lhe afligia. Atendido em sua emergência, encontrava forças para seguir em frente e uma vez satisfeito com o curso de sua vida, sumia da Casa. Vez após vez a história era a mesma. Em uma dessas oportunidades, um dos amigos da Casa perguntou pelo “fujão”, a quem se habituara a ver na Casa. Informado de mais um afastamento, comentou: “é, ainda não está doendo o suficiente.”

O que deveria ficar claro para aqueles que assim agem, é que a Doutrina Espírita não deveria ser vista como tratamento paliativo: não é remédio para dor de cabeça, que age sobre o sintoma mas não trata a causa dessa dor.

A Doutrina é, sim, um chamado à reforma íntima. E reforma íntima é renovação interior, profunda, e contínua.

Essa renovação deve ser profunda porque os ensinamentos nos conclamam a olhar para além dos problemas que inicialmente visualizamos. Estes são apenas os efeitos de nossa conduta (presente ou passada). Apenas uma autocrítica sincera e rigorosa de nossa conduta e de nossa natureza interior vai apontar os verdadeiros problemas a resolver; problemas esses que geram todos os efeitos negativos em nossa vida. A seriedade dessa análise é muito grande, e exige que obtenhamos novas ferramentas de conhecimento para podermos compreender adequadamente nossos problemas e com eles lidar de forma responsável e eficaz. O estudo, nesse caso, se faz necessário, e como o conhecimento necessário é vasto, não dá para achar que assistir algumas preleções ou ler alguns trechos de O Evangelho Segundo o Espiritismo vá ser suficiente.

Essa renovação deve ser contínua porque a resolução de nossos problemas íntimos é um processo longo, que exige paciência e perseverança. Construímos dentro de nós verdadeiras montanhas ao longo dos séculos, e o que temos são nossas próprias mãos para transformar essas montanhas, que hoje são montanhas de problemas em montanhas de virtudes. O tempo está a nosso favor quando decidimos nos dedicar à tarefa: séculos são necessários, e séculos temos na esteira das reencarnações renovadoras. Mas o trabalho deve ser contínuo e a dedicação, perene.

O que não é útil é tomar a Doutrina por pílula de bem-estar, buscando-a apenas quando as dificuldades da vida baterem à nossa porta. Agir assim é retardar o passo de nossa própria marcha evolutiva. E outra: alertar amigos e parentes que assim agem, é exercício de caridade.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Quando deixamos de ser Espíritas

Fulano de Tal é colaborador da Casa Espírita já há mais de trinta anos. Cônscio de suas responsabilidades para com o próximo, estudou a Doutrina de forma diligente desde os primeiros contatos que teve com a mesma, e nunca parou. Tanto se esforçou por colaborar com a Casa que o acolheu que ao longo do tempo foi acumulando responsabilidades e trabalhos realizados. Hoje é um dos coordenadores do trabalho voluntário dessa Casa, e contabiliza inúmeros projetos realizados — sempre com o auxílio de várias dezenas de colaboradores, claro — em benefício do próximo, desde mutirões de limpeza e pintura na sede do Centro Espírita, passando pela organização de festas com o objetivo de angariar fundos para as atividades assistenciais da Casa, e chegando mesmo aos mutirões de coleta e distribuição de alimentos para comunidades carentes. Fulano é simples, disciplinado e muito comunicativo.

Sicrano de Tal é mais novo na mesma casa (e apesar do sobrenome ser o mesmo, não guarda parentesco com Fulano): tem “apenas” dez anos de serviços prestados à Casa. Estudante perene e dedicado da Doutrina e experimentado orador, é palestrante notável e ao longo de sua caminhada na Casa teve para si outorgada a responsabilidade de organizar as palestras periódicas, os agendamentos com palestrantes internos e externos, a organização da infra-estrutura necessária, e a divulgação dos eventos em si. Sicrano é amistoso, responsável e sempre disposto a ajudar.

Apesar do pouco contato, Fulano e Sicrano têm um relacionamento amistoso e cordial.

E tudo vai bem até o dia em que Sicrano, descobrindo que um orador querido de região distante estará na cidade em um dia próximo. Rapidamente põe-se a trabalhar: autorizado pela direção da Casa, entra em contato com o orador em questão, ambos acertam uma data para o evento — a única possível no momento e nos muitos meses vindouros — e a palestra está marcada. Durante a divulgação Sicrano recebe a informação de um dos colaboradores: a data definida coincide com um dos eventos de distribuição de alimentos coordenados por Fulano.

O que ocorre a partir daí é triste e lamentável: Fulano, pego de surpresa e incapaz de entender por que a palestra não poderia ter sido marcada para outro momento, se magoa com a inevitável perda de colaboradores, a maioria interessada em assistir a palestra do orador estimado. Por sua vez, Sicrano desconsidera as reclamações de Fulano, achando que a oportunidade única não pode ser perdida. E a partir dessa pequena escaramuça inicial, forma-se uma animosidade entre ambos. Dentro de seus próprios grupos são o que sempre foram: pedras de arrimo dos trabalhos que coordenam. Contudo, sem que quase ninguém saiba a não ser uns poucos colaboradores mais íntimos, passam a se desgostar mutuamente.

Em que pese a situação exposta acima ser fictícia, ela infelizmente reflete o cerne de um problema que não é incomum em várias Casas Espíritas em todos os lugares: as inimizades veladas entre seus colaboradores. E independente de qual sejam as razões alegadas para tais comportamentos, a verdade é que o diagnóstico central é um só: aqueles que se entregam a esses comportamentos deixam de ser Espíritas, pelo menos nos momentos em que nutrem mágoas recíprocas. São Espíritas durante quase todo o tempo, mas abandonam intencionalmente a Doutrina e seus ensinamentos quando se entregam às inimizades.

“Puxa vida,” alguém sempre pergunta, diante dessa afirmação, “será que é para tanto? Não será exagero afirmar que só por causa disso o sujeito deixa de ser Espírita, ainda que só por um tempinho?”

Avaliar se esse tipo de comportamento constitui ou não um abandono da Doutrina é questão de foro íntimo, claro, mas tal observação se alicerça em Kardec. Vejamos.

Encontramos no capítulo XVII, item 4 do Evangelho Segundo o Espiritismo, uma definição — simples e precisa, como tudo o que escreveu Kardec — extremamente significativa para esse assunto: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas más inclinações.”

Essa é uma definição de suma importância no que tange esse assunto em particular. Kardec afirma que o verdadeiro espírita — e esse termo “verdadeiro” mereceria por si só um volume inteiro de análises — é reconhecido “pelos esforços que emprega para domar suas más inclinações” (grifo nosso). Em outras palavras, o verdadeiro espírita não é reconhecido por ter atingido a perfeição, nem pelo conhecimento doutrinário, nem pelo tempo que passa dentro do Centro Espírita, nem mesmo pelo tanto que trabalha em prol da Doutrina. A definição não se refere ainda ao sucesso em domar as más inclinações, observem. Ela fala, sim, do esforço de cada um no sentido de melhorar-se. (É justamente por isso que nenhum de nós que já ingressou nas lides Espíritas deveria dizer que está “tentando” ser Espírita. Nada disso: se todos nós nos esforçamos — ainda que muitas vezes sem sucesso — para nos melhorarmos, somos Espíritas no direito de sê-lo e de informá-lo a quem quer que nos interesse. Mas isso é outra questão, para um outro momento.)

Ocorre que nos exemplos acima, quando Fulano e Sicrano nutrem animosidades mútuas — um exemplo clássico de “má tendência” —, deixam explicitamente esse esforço de lado. Movidos pelo melindre, pela mágoa, pelo rancor dentro da Casa Espírita, rasgam ainda que temporariamente seus votos de fraternidade, compreensão, resignação e humildade e põem-se na posição de enfermos espirituais. No mais das vezes julgam-se detentores da razão, escudados por sua longa ficha de serviços prestados, pela importância para a Casa do trabalho de que são colaboradores, pelas intenções (sempre as melhores e as completamente desinteressadas) que guardam para com esses trabalhos e outras alegações que tais. E infelizmente ao se arvorarem em senhores da razão se afastam dos exemplos magnânimos do Cristo, de compreensão, de perdão, de resignação, de humildade.

Fulanos e Sicranos por aí afora continuarão com essas curtas (mas importantes e contundentes) “ausências” da Doutrina Espírita enquanto não examinarem seus íntimos e não buscarem aplicar também a essas situações dentro da Casa o manancial de conhecimento que certamente já adquiriram e já aplicam em seus trabalhos assistenciais.

E como podemos retornar de vez para o caminho seguro da Doutrina? O próprio Cristo ensina:

"Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da justiça e não sejais metido em prisão. Em verdade vos digo que daí não saireis, enquanto não houverdes pago o último ceitil."

sábado, 15 de agosto de 2009

Receber bem para receber sempre

Recentemente um casal de amigos me contou uma pequena passagem que guarda triste semelhança com várias outras que já ouvi ou — mais contundentemente — que já presenciei.

A família — pai, mãe e a filhinha de quatro anos — em busca de um Centro Espírita passa pela porta de um deles, desconhecido até então, e decide entrar para “dar uma olhadinha”. São logo avistados por um indivíduo na entrada, a quem dirigem as perguntas habituais: “quando são os horários de funcionamento?”, “existe grupo de evangelização infantil”, ao que são prontamente respondidos. Junto com a resposta, porém, vem o aviso: “mas não permitimos a entrada de pessoas de bermuda.”

O pai, de calça social (era um domingo e estavam passeando pela pequena cidade), olha para a mãe, também de calça social, e volta-se sem entender nada para o colaborador da casa. E é esclarecido do “erro” em questão: “a menina não pode entrar na casa vestida assim.” A filhinha de quatro anos trajava uma bermudinha, e isso violava o código de vestimenta da Casa em questão.

Situações semelhantes — de constrangimento daqueles que buscam a Casa Espírita pela primeira vez — ocorrem de formas múltiplas, e o resultado, infelizmente, é quase sempre o mesmo: o afastamento prematuro daquele que veio até a Casa em busca de auxílio.

Sabemos, claro, que toda casa tem suas regras, e que a regra de vestimenta é absolutamente importante para reforçar o código de conduta que se espera dos colaboradores e frequentadores do Centro Espírita, mas a questão aqui é outra: a de se imputar a regra antes de se oferecer o auxílio. E a primeira impressão nesse caso (e em vários outros m que recebemos mal o irmão que nos busca pela primeira vez) é péssima, e em última instância é um exemplo tácito de falta e caridade. Nesse sentido, inúmeros são os “comitês de recepção” de Centros Espíritas que erram por não entender que o momento inicial de contato com a Casa é de suma importância para quem a procura. Impor regras logo na entrada, receber de mau-humor, dar informações errôneas ou incompletas e vários outros exemplos são atitudes certamente descompassadas dos objetivos da Casa (de qualquer Casa) Espírita.

Em contraste, tenho exemplos pessoais de recepções em templos de outras religiões. Em situações em que fui convidado a assistir o sermão em Igrejas Batistas, por exemplo, mais parecia que eu era o convidado de honra do local, tendo sido apresentado às atividades e às instalações da Igreja e tendo sido sempre introduzido às pessoas que me recebiam com largos e sinceros sorrisos. Se sabiam que eu sou espírita ou não, não sei (os amigos que me convidaram certamente sabiam), mas o fato é que me senti muito bem recebido, muito bem-vindo àqueles templos. E, puxa, como eu gostaria que todas as Casas Espíritas recebessem os “novatos” dessa forma amabilíssima.

E como fazer para que a situação se modifique para melhor em nossa Casa Espírita?

Bem, em primeiro lugar é necessário fazer uma avaliação da situação. Temos alguém para receber as pessoas durante as sessões públicas? Se sim, os responsáveis pela recepção estão a par das atividades da casa? E estão instruídos para receber os que chegam pela primeira vez com a alegria e a caridade de quem recebe um irmão do coração que pode estar precisando muito de ajuda?

Caso as respostas para essas e para outras perguntas da avaliação inicial não sejam satisfatórias, o caminho é simples: formalização e treinamento. A Casa já deve oferecer vários cursos sobre a Doutrina e as atividades da mesma, certo? Pois então, a conduta durante a recepção deve ser conteúdo formalizado e abordado em treinamento. E, por favor, que nesse treinamento seja reforçado que a caridade e a cordialidade na recepção dos iniciantes deve preceder a exigência de regras de conduta. Não que as regras não devam ser passadas em pouco tempo de frequência, mas que nós possamos abrir pequenas exceções em nome de receber bem. Em nossa Casa, onde a padronização e o treinamento são palavras de ordem já há décadas, e onde as regras são seguidas sempre, mas com bom-senso, a questão da vestimenta é lembrada com bastante frequência, mas em público e para todos os frequentadores (e não de forma direta para esse ou para aquele indivíduo). Apenas em casos de abusos mais contundentes — e só muito raramente vemos esse tipo de abuso — é que uma observação particular é feita. Dessa forma o novato se sente realmente bem-vindo, e quando for informado acerca das regras, já se sentirá suficientemente à vontade com a Casa para não se sentir “enjeitado” pela mesma. Como no caso do exemplo inicial, em que faltou bom-senso ao se exigir uma regra de vestimenta de uma menina de quatro anos trajada para um passeio ao ar livre num dia de domingo.

Receber bem o iniciante é importante para que esse encontre na Casa Espírita o auxílio que busca, desenvolva forças para se renovar nos caminhos do Cristo, e quiçá venha a se tornar um colaborador da do Centro e da Doutrina Espírita.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Um começo

Em primeiro lugar, bem-vindos a essa humilde casa virtual! É com muita alegria que os recebo aqui.

Esse é um espaço que criei por uma razão muito simples: eu falo demais. Sempre falei. Sempre tive essa necessidae de me comunicar. E quem sabe se eu colocar no papel (ou, no caso, na tela) alguns de meus pensamentos, vou deixar de importunar por alguns segundos a mais por dia aqueles que educadamente me emprestam sua companhia.

Mas para que serve esse espaço?

O Observações do Caminho é uma tentativa de deixar registrados alguns pensamento meus acerca da Doutrina Espírita, essa que é a minha paixão e a luz a guiar minha vida. A luz a iluminar o meu caminho. Aqui espero compartilhar com todos vocês algumas poucas observações que tenho feito sobre vários aspectos da Doutrina, de forma a criar um cadinho onde possamos trabalhar idéias e, com o auxílio do Mais Alto e dos amigos aqui presentes, podermos refletir e melhorarmos a nós mesmos.

Fica desde já, aqui, meu muito obrigado pela presença e meu convite à participação. Meu primeiro impulso é gerar pequenos artigos, alguns poucos por semana, e a participação de vocês vai ser um grande motivador para que esse espaço cresça e floresça.

Nos falamos em breve!