Estava eu navegando pela Internet quando de repente me deparei com um anúncio inusitado, dizendo algo na linha de “Risco de divórcio? Nós podemos ajudar. Centro Espírita ...”. É óbvio que fiquei curioso e resolvi checar. Achei que fosse alguma Casa Espírita oferecendo explicitamente serviços de aconselhamento de acordo com a Doutrina e lá fui eu para ver que tipo de serviço nossos irmãos de seara estariam disponibilizando.
Para meu espanto, o que encontrei não tem nada de “Centro”, e muito menos de “Espírita”. Escrito em um dialeto estranho que só muito de longe se assemelha ao português, o site da suposta instituição já revela suas intenções na página principal, com um
banner colorido onde está escrito “Tarô”, com uma ilustração de cartas desse tipo. Mais abaixo o leque de “serviços” oferecidos: pacto de riqueza, sucesso empresarial, amarração, problemas conjugal (sic), e por aí vai. Só com muito custo consegui dominar os sentimentos menos caridosos que me invadiram ao ler as diatribes escritas nas páginas do tal site.
Diante de mais esse absurdo, decidi fazer uma rápida pesquisa no Google, buscando pela expressão “Centro Espírita”, e o resultado não é muito diferente. Em meio a várias Casas Espíritas de renome e com anos de trabalho em prol da Doutrina codificada por Kardec, é fácil encontrar casas de Umbanda, centros espiritualistas de toda sorte e outras instituições disjuntas do Movimento Espírita.
E me vem a pergunta: por que será que as instituições espiritualistas ainda teimam em se dizer “Espíritas”? Pois não foi o próprio Kardec quem deixou explícita a explanação de que “Para se designarem coisas novas são precisos termos novos”, pois “assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras”? Pois é, ao que parece, poucos têm essa preocupação com a clareza das ideias e dos conceitos.
Penso que seja outra responsabilidade nossa como Espíritas: zelar não só pela Doutrina, mas também pelo nome da Doutrina. Quantas vezes não ouvimos pessoas se dizendo Espíritas para logo em seguida informarem o nome do terreiro de Candomblé que freqüentam? E creio que faríamos bem em pelo menos esclarecer estas pessoas quanto à origem e a fundamentação por trás do termo. Mais ainda, quando alguém que for leigo no assunto, ouvindo que somos Espíritas, perguntar se somos “de mesa branca, Umbanda ou Candomblé”, devemos dizer que somos simplesmente Espíritas (e não “Espíritas Kardecistas, ou outras denominações não estipuladas pelo próprio Kardec), e que o termo se aplica a quem adota a Doutrina dos Espíritos como revelada por eles mesmos e codificada por Allan Kardec. Devemos esclarecer ainda que o Espiritismo é uma doutrina de tríplice aspecto: filosófico, científico e religioso, e que no aspecto religioso trata-se de uma doutrina fundamentalmente Cristã. Por fim, devemos esclarecer que as demais denominações são espiritualistas, pontificando a diferença entre os dois termos.
Até porque se nós Espíritas não fizermos isso, continuaremos a ver nossa querida Doutrina Espírita confundida com as demais denominações, e o prejuízo continuará sendo de todos.