Em primeiro lugar gostaria de pedir desculpas aos leitores (aos não mais que cinco, estou certo, que ainda acompanham esse blog) pela ausência de artigos na semana passada. Espero ser mais assíduo daqui para frente, com dois artigos por semana.
Ah, e reparem que o formato muda a partir de hoje, por sugestão de meu amigo e colega Pedro Valiati. Muito obrigado pela sugestão, Pedro!
Mas vamos ao que interessa, o artigo de hoje: ___________________
A Feira do Livro Espírita foi linda e muito bem organizada. Mais de mil títulos disponíveis, organizados impecavelmente por mais de trezentos voluntários para o evento de dois dias. Além dos livros em si, autores presentes para explanações e autógrafos; palestras doutrinárias realizadas por oradores ilustres; uma praça de alimentação agradável, com atendentes de muito bom humor e quitutes especialmente escolhidos para agradar a todos. Um dos maiores — senão o maior — evento desse tipo do interior do estado, uma beleza.
Tudo perfeito, digno de admiração, e aplauso e muita gratidão aos organizadores que nos brindaram com tão belo e importante evento. Mas será que estava tudo perfeito mesmo? Bem, em que pese o quesito organização merecer nota máxima, um aspecto precisa ser comentado. Uma volta pelo ginásio em meio aos livros evidenciava um claro ponto de melhoria para os próximos anos. Em meio a várias edições respeitáveis de autores sérios e dedicados à causa Espírita, alguns títulos causavam admiração e mesmo espanto.
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Não me refiro aqui às dezenas de títulos de autores(as) espiritualistas, que mercadejam seus livros para ganho material próprio. Não, esses — apesar de serem menos recomendáveis que livros sérios de autores Espíritas — pelo menos têm o mérito de colocar muita gente em contato com conceitos espiritualistas e trazer muitas dessas pessoas para dentro do Centro Espírita, onde são orientadas e em pouco tempo estão tomando dimensão da Doutrina através de leituras e estudos mais produtivos.
Refiro-me sim à exposição de livros de autores Católicos com livros que fogem aos princípios doutrinários Espíritas; refiro-me aos vários títulos escritos por autores Umbandistas contando “causos” sobre Umbanda e que tais; refiro-me aos livros de auto-ajuda, livros sobre liderança, livros que supostamente explicam porque as mulheres fazem amor enquanto os homens fazem sexo. E quando esses perfazem algo próximo a um terço das obras expostas, vejo razão para repensarmos o evento como um todo. A verdade é que tais títulos têm muito pouco a ver com Espiritismo e absolutamente nada a ver com Pureza Doutrinária, um conceito fiel e corretamente defendido pela Casa.
A Instituição Espírita informa que teve que se limitar à organização física do evento, das palestras e dos voluntários, deixando a cargo de grande editora Espírita o conteúdo da exposição. Apenas alguns títulos foram veementemente rejeitados por se colocarem frontalmente contra a Doutrina Espírita, mas essa foi a extensão da participação da Casa, sob pena de não contar com o enorme auxílio e acervo da referida editora, que a bem da verdade fez um trabalho primoroso na organização dos livros tendo trazido obras de mais de vinte editoras para o evento.
O dirigente da editora, por sua vez, quando questionado sobre os livros em exposição informa que os livros espiritualistas, de outras religiões e mesmo os de auto-ajuda vieram por serem os que mais vendem. Informa ainda que mesmo os livros vetados pela diretoria do Centro Espírita tiveram procura razoável e perdeu-se a chance de boas vendas.
E após o evento fiquei pensando que talvez seja útil questionarmos nossas prioridades antes de nos lançarmos a qualquer empreitada que envolva a Doutrina Espírita. O que é prioritário para nós? Aparecer como organizadores de um evento de grandes proporções ligado à Doutrina Espírita? Vender livros, independente do teor dos mesmos? Ou fazer divulgação da Doutrina enquanto zelamos pelos preceitos da mesma?
No primeiro caso erramos porque abrimos concessões que pesam contra a Doutrina Espírita em nome do tal evento; no segundo caso só temos a divulgação da Doutrina Espírita como meta se isso não afetar os lucros auferidos — ainda que esse lucro seja inteiro dedicado às causas sociais — penso eu. Já quando a terceira opção é o caso, faz-se mister observar nos livros expostos a mesma Pureza Doutrinária que defendemos em exposições de aula, preleções doutrinárias e reuniões mediúnicas, sob pena de errarmos por omissão no melhor dos casos ou por hipocrisia no pior deles.
Vai ser um evento menor se for assim? Certamente que vai, pois no mínimo um terço dos livros — aqueles que não queremos expostos — não estarão lá.
Vai dar mais trabalho trazer as editoras, que deverão ser contatadas uma a uma, com problemas multiplicados pelo número delas presentes ao evento? Sim, com certeza. Mas o que vi foi o “conforto” de ter tudo isso cuidado por uma editora trazer todos os pontos negativos levantados acima. Além do que, se quisermos realizar um evento temos que estar prontos para arcar com o trabalho que o mesmo vai gerar. Deixar o trabalho por conta dos outros não e parece ser uma estratégia lá muito Espírita.
Vai ter menos gente indo ao evento? Muito provavelmente sim, mas os presentes — principalmente os leigos — não serão confundidos com obras claramente não-Espíritas, e não vão sair de lá com falsas expectativas com relação à Doutrina.
Vão ser vendidos menos livros? Certamente que sim, mas justamente aqueles que não queremos ver associados com a Doutrina Espírita nem com nosso Centro.
Em suma, só vejo vantagens em aplicarmos os mesmos conceitos de Pureza Doutrinária em todos os eventos da Casa. Até porque isso reforça aquela que deveria ser a nossa maior prioridade: a Doutrina Espírita em si.
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