Mais dia menos dia encontramos situações que verdadeiramente nos testam os limites. Não os limites do que aprendemos em teoria dentro da Doutrina Espírita, mas sim do quanto dessa teoria já introjetamos em nossos corações, o quanto tiramos da teoria e de fato colocamos em prática. As situações são as mais variadas, e vêm calculadamente de encontro às nossas necessidades evolutivas. Questões de saúde pessoal ou de entes queridos, questões financeiras, violências sofridas, traições de confiança dos mais variados matizes, e por aí vai.
E quando ocorrem somos chamados à tarefa hercúlea de ultrapassar a dor, arregimentar toda a nossa confiança no Mais Alto e por em prática os ensinamentos Cristãos e Espíritas de que dispomos.
Fácil? De jeito nenhum, obviamente. Mas existe outro curso útil de ação? Não, definitivamente.
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A esperança, a fé, a abnegação, a humildade, a paciência e a perseverança são nossas companheiras indispensáveis de jornada, e nesses momentos devem ser aquilatadas praticamente de minuto em minuto.
E ainda assim, mesmo que sejamos confiantes no Pai e serenos diante da prova, de tempos em tempos nos vemos entregues ao desânimo, à angústia, ao desespero, ao medo, à dor. Nesses momentos parece que nos vemos despojados de todas as ferramentas citadas acima, e nos assemelhamos a barcos à deriva em noite tempestuosa. Dúvidas pessoais das mais violentas nos assaltam; os resultados tenebrosos da situação se assomam lúgubres no horizonte; entregamo-nos à impotência e ao medo; questionamos nossa capacidade de lidar com a situação, e o desespero que daí resulta mais ainda nos confunde e cega. E, claro, tudo isso ocorre a despeito de todos os ensinamentos — às vezes de décadas — angariados nas lides da Doutrina dos Espíritos. É natural que assim seja, aliás, pois é do atual estágio evolutivo de todos nós. Conhecemos a Doutrina Espírita na teoria, e somos conclamados a viver seus conceitos na prática.
Esses momentos de vacilo aqui citados ocorrem na vasta maioria dos casos em que o indivíduo pé posto em prova, mas também são passageiros na vasta maioria desses mesmos casos. Acabamos por encontrar as forças necessárias para nos livrarmos dessa situação nociva de dúvida e angústia. Seguimos em frente, trabalhando com o Cristo até resolvermos a situação. Pode demorar algumas décadas, e a “solução” pode vir sob forma do desencarne após o cumprimento da prova, mas ainda assim, o que a Doutrina nos ensina é que estamos destinados ao sucesso no domínio de nós mesmos.
Um detalhe pode ajudar a sairmos desses momentos de fraquejo com mais facilidade, e esse detalhe é decorrente de uma situação que precisa ser melhor interpretada por nós. A questão do merecimento.
É óbvio que o que nos ocorre na vida o faz em função de nossas necessidades evolutivas. Nada de novo aí. Aquilo que de supostamente “ruim” recai sobre nossos ombros só o faz porque precisamos das lições contidas na (e decorrentes da) situação. A palavra chave aqui é "necessidade".
Da mesma forma, as bênçãos do Mais Alto que normalmente percebemos como tais (pois no frigir dos ovos, todas são bênçãos, sem exceção), aquelas que nos soam como dádivas, como sucesso, como presentes, como resultados positivos de nossos esforços, vêm até nós em função de nosso merecimento, que nesse caso é a palavra chave.
Ambos os conceitos “necessidade” e “merecimento” tendem a ser confundidos nos momentos de prova, principalmente naqueles instantes em que fraquejamos diante delas. Quando nos questionamos em momentos assim, tendemos a nos julgar não merecedores do auxílio do Mais Alto em função de falhas identificadas em nós mesmos. Envergonhamos-nos de pedir auxílio por acreditarmos não termos méritos para recebê-los.
O erro está em julgar pela ótica do merecimento uma cláusula que deveria ser observada pela ótica da necessidade. Merecemos auxílio? Bem, além de não ser de nossa alçada esse julgamento, a resposta não se aplica à situação. Ficamos questionando nosso merecimento, e a vergonha diante de nossas imperfeições percebidas muitas vezes nos impede a rogativa. “Como é que eu posso pedir ajuda agora tendo feito tanta coisa errada em meu passado?” é o que intimamente nos questionamos. “Eu não mereço ser ajudado” é o que pensamos cada vez que nos deparamos com o desânimo, o que simplesmente nos impede a rogativa.
O que deveríamos perguntar não se “merecemos auxílio”, mas sim se “necessitamos de auxílio”. E nesse caso, a resposta será um sonoro SIM. Obviamente precisamos de auxílio diante da prova enfrentada, e ainda mais no momento em que fraquejamos. E nada mais lógico do que pedir por esse auxílio em nossas preces ao Mais Alto. É claro que a resposta essas preces vem sempre de acordo com nossas necessidades, o que nos exige o trabalho, a percepção aguçada e a clareza de pensamentos para entendê-las como sendo úteis e muito necessárias para a prova vivida.
O fato é que as palavras sábias do mestre Jesus são “Pedi e obtereis”, e não “Só pedi se tiverdes merecimento, pois só assim vos será dado”.
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